O mercado financeiro não se auto-regula e a supervisão mútua não funciona, ao contrário do que preconizava e continua a defender, contra todas as evidências, o ex-presidente da Reserva Federal dos EUA (FED), Alan Greenspan. E o embrião desta crise foi precisamente a sua nomeação, em 1987, por Ronald Reagan, visando a liberalização total do sector financeiro. Com ele terminaram as restrições aos juros e foi viabilizado o empréstimo de risco. No mercado imobiliário o crédito a famílias modestas (o subprime) foi facilitado. Faz lembrar alguma coisa?
Foi uma opção suicida, já que essa facilidade de acesso ao crédito resultou na diminuição de consumo, dada a necessidade de liquidar a dívida contraída. E baixando o consumo, caiu a produção e cresceu o desemprego. Mas nada disso interessou a Wall Street, lançada numa espiral especulativa sem retorno, que só poderia explodir como o jogo da pirâmide, que afinal é o seu modelo operacional. As fraudes multiplicaram-se e, com os mecanismos de regulação desactivados, nada foi detectado. Nem nos Estados Unidos nem na UE, que seguiu o mesmo modelo. As burlas nos bancos comerciais foram camufladas pelos paraísos fiscais, as off-shores que os governos teimam em manter, e que dão cobertura aos negócios ilícitos. Por cá, o Banco de Portugal, naturalmente, manteve-se alheio às evidências criminais.
Em 2005, com o aumento das taxas da FED, rebentou o balão. A par do abrandamento do consumo, surgiu a impossibilidade de cumprir com as prestações elevadas, o que motivou a corrida às vendas de imóveis e a inevitável crise no sector imobiliário. As instituições financeiras começaram a tentar vender os títulos de risco, que rapidamente perderam valor (a crise das subprime).
A bolsa foi o recurso seguinte e a ordem de venda difundida levou à queda das acções. Foi o pânico generalizado. Wall Street colapsou e o mercado europeu acompanhou a queda. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, precipitou a crise europeia com a mesma fórmula, apostando na subida meteórica das taxas de juro, seguindo a asneira americana. Com o argumento de contenção da inflação, face aos aumentos do preço do petróleo, contribuiu para o descalabro da economia. Visando travar a corrida ao crédito, antes provocou a impossibilidade do pagamento dos que o tinham contraído.
A fim de manter o sistema, nacionalizaram-se os prejuízos. Os empréstimos concedidos não tiveram garantias reais e protegeram-se os responsáveis pela derrocada económica. E assim que Trichet desceu a taxa de juro, aumentaram o spread (a margem de lucro que reverte para o banco). O povo paga e a banca prospera.
O ardil da carência de capital resultou num novo esquema de agravamento de juros. Transformaram a mudança de sistema num novo contrato, aumentando os juros, e barraram a possibilidade de manter o cumprimento das prestações.
A recessão foi inevitável, com a crise crescente no mercado imobiliário a alastrar-se a todos os sectores de produção. O abrandamento do consumo minou todos os sectores, já sabotados pelas restrições impostas à agricultura, pescas e indústria… a economia em queda livre.
Crise? Qual crise? Em Portugal, os quatro maiores bancos privados a operar em Portugal (Santander Totta, BCP, BES e BPI) anunciaram os lucros de 2009: cerca de 1,445 mil milhões de euros. Mais do que em 2008 (1,3 mil milhões)!
As injecções de dinheiro nas corporações financeiras não contribuíram rigorosamente em nada para a resolução do problema económico emergente, antes o agravaram. Os estados financiaram os bancos com os dinheiros públicos e o sistema mantém-se. Wall Street continua a mesma política económica e o mundo ocidental segue-lhe as pisadas. Foram as práticas ocultas de Wall Street que levaram ao descalabro na Grécia, contornado as directrizes de Bruxelas quanto aos limites de endividamento e alimentando a besta voraz da especulação.
Sem regulação, as corporações, na sua voracidade, esmagam a economia. Cidades de raiz operária, como Setúbal, ressentem-se particularmente com a situação, dado o desinvestimento na produção e deslocalização das unidades fabris e respectivo equipamento para países onde a mão-de-obra é mais barata. A mesma fórmula que arrasou a indústria conserveira.
Os barões da economia e os papagaios que lhes propagandeiam os propósitos defendem que se baixem os ordenados e aumentem o número de horas de trabalho, enquanto vamos conhecendo alguns dos rendimentos escandalosos dos gestores. Vítor Constâncio vai como castigo ocupar a vice-presidência do BCE, para garantir a inoperacionalidade e fazer a cama ao alemão.
Tudo tresanda a projecto de escravatura.
A BANCA É A NOSSA CRISE.
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